terça-feira, agosto 15, 2006














A Noite adivinha-se... Ouro sobre azul.. Ouro de vinte e quatro quilates...
Desce sobre mim uma sombra lúgubre que grita uma oportunidade irrecusável.. revelar a alma no silêncio do corpo. Porque se os olhos são um espelho, é na escuridão que o seu reflexo lustra mais, é por entre palavras não ditas que cada gesto vale mais...
Um luar cor de prata tacteia a minha pele como às teclas de um piano e numa sinfonia apoteótica o Mundo se desconcerta com a perícia de um maestro.

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Escrever, por exemplo: "A noite está estrelada,
e tiritam, azuis, os astros lá ao longe".
O vento da noite gira no céu e canta.

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu amei-a e por vezes ela também me amou.
Em noites como esta tive-a em meus braços.
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito.

Ela amou-me, por vezes eu também a amava.
Como não ter amado os seus grandes olhos fixos.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho. Sentir que já a perdi.

Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.
E o verso cai na alma como no pasto o orvalho.
Importa lá que o meu amor não pudesse guardá-la.
A noite está estrelada e ela não está comigo.

Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe.
A minha alma não se contenta com havê-la perdido.
Como para chegá-la a mim o meu olhar procura-a.
O meu coração procura-a, ela não está comigo.

A mesma noite que faz branquejar as mesmas árvores.
Nós dois, os de então, já não somos os mesmos.
Já não a amo, é verdade, mas tanto que a amei.
Esta voz buscava o vento para tocar-lhe o ouvido.

De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos.
A voz, o corpo claro. Os seus olhos infinitos.
Já não a amo, é verdade, mas talvez a ame ainda.
É tão curto o amor, tão longo o esquecimento.

Porque em noites como esta tive-a em meus braços,
a minha alma não se contenta por havê-la perdido.
Embora seja a última dor que ela me causa,
e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo.

Pablo Neruda

12:56 da tarde  
Blogger goldfrapp said...

Em tempos, existiu um rapaz que se encarregou de entregar a correspondência destinada a Pablo Neruda na Ilha do Mediterrâneo. Hoje, os seus versos são lançados aos mais diversos destinatários por milhares de apreciadores, continuando a existir em cada um deles a alma idónea do tão célebre carteiro...

12:25 da manhã  

Enviar um comentário

<< Home