sábado, outubro 28, 2006

Agarra essa folha enrugada pelo tempo e desenha os teus sentimentos a carvão.
Verás como os versos soltos explodem na candura do papel como ondas na orla da praia.
Verás como as palavras te fogem das mãos como conchas arrastadas pelo mar.
Verás como é tão mais simples não escrever e não falar...

Sob o luar, o silêncio hedónico do olhar...

sábado, outubro 14, 2006


"Valerá a pena? Remorsos, sim, é verdade, às vezes tenho remorsos. Vejo-me em sonhos como um pássaro negro, crepuscular, alimentando-se nas sombras, nos desperdícios, nos destroços, das vidas alheias. Mas, afinal, o que se leva da vida, senão remorsos? Remorsos do que podia ter sido e não foi e do que se perdeu depois de ter sido. Remorsos do que devia ter sido dito e feito e não foi a tempo ou do que foi demasiadamente dito e feito. Remorsos destes eternos desencontros, desta sensação de que nada existe no seu tempo certo, de chegar sempre tarde ou partir sempre cedo demais. Por que será que a seguir à noite vem sempre a manhã e de manhã pesa sempre nos olhos e na alma o que se fez e desfez de noite - um corpo húmido deixado num lençol de seda e o ladrão furtivo desse corpo abandonando o quarto que não é seu, em direcção ao vazio de tudo o que lhe pertence, inutilmente? "

Miguel Sousa Tavares in Não te deixarei morrer David Crockett

sexta-feira, outubro 13, 2006

trip


O sol esconde-se lânguidamente entre as nuvens ainda acordadas e leva a lassidão das horas para um lugar onde a imaginação não chega. Um brilho iridescente ilumina os meus olhos quais estrelas rutilantes caídas ao mar. Resta a força da voz calada e o silêncio da chama que arde, resta a âncora que o tempo corroeu e que insiste em não aferrar, restam as dúvidas despidas pela ondulação que dançam errantes ao sabor do poente...

Enquanto houver ventos e mar... a gente não vai parar...