
Falavas para mim, expunhas-me as tuas ideias e esforçavas-te por me dar garantias da consistência daquela urdidura. Sozinho, tentavas definhá-la e extrair-lhe algum ponto de meu interesse, mas eu pouco ou nada te dizia. Partilhavas o que pensavas com a maior dedicação e endereçavas-me um olhar vivo e raiado de entusiasmo que tornava luzente toda a tua expressão. Ali estava eu, suspensa em asas de setim, inebriada pelo perfume doce das tuas palavras, desfragmentando pétala a pétala a flôr do teu sorriso. E os teus pensamentos agitados ganhavam forma enquanto tentavas entrever a minha atenção, mas o que eu guardava de ti eram apenas e só imagens fotográficas, despidas de som ou legenda, imagens eternizadas que se alojam no pensamento e insistem em se fazer recordar; daquelas que nunca se perdem porque não pertencem a qualquer lugar, das que não se esquecem porque não estão presas a tempo algum...
Ainda te ouvia.. mas estava longe de te escutar... e estava perto, cada vez mais perto, desses gestos soltos e triviais que ias desenhando sem pensar... e ali estava, fascinada... ali fiquei como o amor de Palma, com lábios de silêncio e mãos de bailarina, com vontade de te abraçar onde a solidão termina...
2 Comments:
Sempre com o olhar te desejo
dar, mais do que palavras ditas,
vislumbres de um pensamento.
Onde brinco suavemente nos aneis
saturnos do teu cabelo,
perdendo a mão nos dedos
que por vezes repousam intrépidos,
inquietos, incertos,
na sedosa pele que trazes
sempre com a singela nudez
da roupa caída.
"S"
Quem não te cinge o corpo?
Não te revela a alma?
Quem,
parado o tempo,
toca nos teus dedos,
bailarina, e não te abraça
na doce valsa
onde a solidão termina?
"S"
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