sexta-feira, novembro 17, 2006

Vertigens



É natural que quem quer "elevar-se" sempre mais, um dia, acabe por ter vertigens. O que são vertigens? Medo de cair? Mas então porque é que temos vertigens num miradoiro protegido com um parapeito? As vertigens não são o medo de cair.
É a voz do vazio por debaixo de nós que nos enfeitiça e atrai, o desejo de cair do qual, logo a seguir, nos protegemos com pavor. Poderia dizer que ter vertigens é embriagarmo-nos com a nossa própria fraqueza. Temos consciência da nossa fraqueza, mas, em vez de resistir-lhe, queremos abandonar-nos a ela, queremos ficar ainda mais fracos, cair por terra em plena rua à frente de toda a gente, ficar por terra, ainda mais abaixo do que a terra.

Milan Kundera in A Insustentável Leveza do Ser

5 Comments:

Blogger Rael said...

Por breves momentos, vislumbrei uma entusiasta do admirável planeta Gong; criação sublime do Arcano Supremo (Daevid Allen) e a sibila apoteótica (Gilli Smyth)!!! Engano o meu... foi apenas uma breve miragem, plena de ilusão óptica! :)

Quanto ao tópico... Sim… concordo... e outras vezes, também temos consciência da nossa fraqueza, mas, em vez de resistir-lhe, abandonamo-nos de nós próprios, da nossa condição real, queremos ficar mais fortes em quimeras, metafisicamente poderosos… supremos nessa idealidade analgésica… todavia… nada esconde o olhar de abandono e o desequilíbrio dos cinco sentidos… esses dois pares e meio de asas…

8:42 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

e..........

que não seja imortal, posto que é chama... mas que seja infinito enquanto dure... ;)

9:59 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Lá está!; como usualmente afirmo, mais uma vez a pseudo-intelectualidade é consubstancial do vazio. Mais um "rael" que, por aborto, "aze" (o aze do ase-deus, do às e da Ásia, que em certos casos asia é) não será. Só "rael", como uma Vénus do Milo, pedaço de Belo sem braços.
Mais fiel serei ao Anónimo, que buscando palavras de Vinícius, nega os vícios, de admirar de mais as suas.

É uma clara vertigem: desconcertante, mas não, e talvez por isso mesmo, insustentável...

3:41 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Vertigens... Sempre as tentamos evitar porque não sabemos até onde vai a nossa fraqueza, até que ponto conseguimos evitar a força que nos suga... É tão reconfortante deixarmo-nos cair, é deveras tentadora a sensação de liberdade que daí advém... Cabe-nos a nós perceber se segundos fugazes de liberdade compensam essa caída no desconhecido que nos chama...

6:34 da tarde  
Blogger Rael said...

Manuel, pareces um animal ferido, cheio de azedume e cólera. Lanças-te, sem motivo aparente, feroz com o dedo facilmente apontado para a frente… mas como as feridas internas não se tratam com guerrilhas sem jeito, ouço-te humildemente, mesmo considerando patéticas e descabidas as tuas palavras. Reservo-te esse digno direito de as proferir, como juízo de valor, mesmo desprovidas de qualquer sustentáculo ou conhecimento. Normalmente, esse direito, assume-se em universos distintos, como a arte, acontecimentos, a questão da qualidade, inovação, vanguardismo, etc; mas nem tanto sobre pessoas… pois há aqui há que ter mais bom senso. Nunca tentei superiorizar-me pelo intelecto, nem dei essa imagem, que não beliscaria minimamente aquilo que sou.

Peço-te para terminar aqui este assunto, para não maçares mais os leitores e escritora com commentários de comentários.

4:45 da tarde  

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